terça-feira, 6 de dezembro de 2016

ANDRÉ MINGAS CANTOR QUE EU ESPEREI

“Reviver André Mingas é voar na melodia mística de um cantor elevado à casta dos
ícones desta terra”.
                A voz madura de um artista, no show que vou adorar, é sem dúvidas um momento para dizer, no final, que valeu a pena estar  na magna sala do Royal Plaza, esta que se tornou no Santuário “Real” da Música angolana, no sentido de “marca”.
                Por que não acreditar que, como eu, Luanda se mobilizará para um show  ímpar, imperdível e único, que vai fazer reviver o meu artista?
                Já é da praxe, fazer do Plaza o nosso espaço, a nossa órbita preferencial, onde gravitamos nos meses que correm, pelas razões que os ‘showistas’ bem conhecem, justamente dado o vínculo que articula o público e a equipa que se esmera e se dedica para que, cada um de nós se sinta na presença de uma relativa forma de estar: o bem sentir.
                Show do Mês, um show de excelência à parte do show principal, tudo porque a casa nos reeducou à pontualidade e ao viver de um momento que combina o glamour na humildade, o sorriso na simplicidade e outra vez a alegria do “bem sentir-se”, claramente identificável em cada rosto que aborda o Plaza, sabendo sempre que vai estar bem consigo próprio e com os outros.
                Sente-se circular em cada show uma afeição antecipada, dada a interacção do seu público nas dicas que se fazem passar, no pré-show e prognósticos de uma conjuntura que se vai fazer acontecer. Podemos crer!
                A marca Show do Mês, fidelizou um público. E que público! Gente sedenta em desfazer-se do ócio, das turbulências e exigências do dia, em busca do pão numa vida partilhada onde os importantes somos nós e os nossos. Homens e mulheres que na fuga de ver as suas vestes envelhecidas no guarda-roupa, encontra o álibi para desfilar e bem, na passarela do sorriso.

                Depois de terem passado por este palco,  músicos de uma linha fina do nosso “music-hall” angolano, como Gabriel Tchiema, Orquestra Kapossoka, Selda, Irina Vasconselos e Mukenga, eis que é chegada a vez de emprestar a sua voz, nada mais nada menos, que André Rodrigues Mingas Júnior, o “GASMIN”, num cruzamento com a figura que introduziu “Kalunga”, o Mar das descobertas, do desterro, do suprir do sal, salgado, e tudo quanto se faz para saciar a fome dolorosa, e sonhos envolventes, na sua arquitectura de cantar o amor.
               
                Kalunga bairro negrinho
                nome que veio do mar,
Foi um escravo bagageiro
                que foi de barco p’ra lá

                Trouxe palavras novas,
                kianda virou iemanja
Calulo virou mukeka,
                funge virou batapa
               
                A MULHER esculpida para dar vida, a pérola do amor, se fez vestida nas canções de embalar, na letra e na melodia de um soneto com a mística de uma voz de sempre. Ele (André Mingas) soube sorrir e chorar no silêncio e, como poucos, fez a canção mulher, à dimensão versátil, esgrimindo o mais sublime e puro, superando o dilema transversal deste corpo Luz.
                   
                Oh minha flor, minha luz do sol/
                A fantasia e a cor da minha vida/
               
                Cada minuto em teu olhar/
                Um palco onde os meus sonhos/
                Ganham vida, esta vida.
               
                Eu guardo das manhãs/
                O acordar, contigo ao amanhecer/
                Beijar teu corpo nu/
                Um jeito de dizer amor, bom dia...
               
                O NACIONALISMO se fez confundir entre o cancioneiro e o actor social, procurando galvanizar a sua gente para as frentes do dia-a-dia, buscando uma esperança, um sorriso, uma flor, uma palavra amiga e foi assim que fomos  aconselhados a agarrar hoje o tempo, falar de amor, de carinho e de paz, pra no momento certo colher jasmim, fazer poesia com todas as letras, contar as estrelas, saudar a vida e ver os deuses iguais a Ele…. E porque não?! E por que não crer nesta comparação da utopia real, a ombrear com o soberano das alturas.
                E por que não, visto ser digno... o propósito?!
                A canção de Mingas, celebra a vida no pregão da Zungueira do seu tempo, na Kitandeira do prato de cacusso do Panguila, fazendo querer que o amanhã, será melhor. Pois o sol brilha na conversa amena da moça que se enamora, nos olhos de ver e no sorriso matreiro da amiga que insinua; sem trocar por nada esse sabor do chão e do café, por qualquer viagem a Amstardam e Copenhaga, porque faz do que é seu, a sua galáxia primeira.
                André Mingas e o seu talento reúnem consenso, fruto de uma educação de esmero, aos cuidados de uma família que se dedicou, por conta de uma relação de consanguinidade com os génios de Liceu Vieira Dias, Carlitos Vieira Dias, Rui Mingas, outros actores próprios desta terra, assim como o meio que o envolveu.
                Não se podia esperar outra coisa do arquitecto, que enquanto artista se preocupou sempre, na introdução do Belo, da Estética e de celebrar a Arte Prima, condenado a fazer passar uma música que estimula um sentimento que viaja suave, no ouvido menos atento e o valor no sentido próprio, de uma postura que eleva o homem, as tribunas de seres únicos por força de uma eximidade sonora que nos envolve.

                E hoje, porém, nos rendemos ao talento de uma obra cosmopolita cujo legado deve marcar presença insubstituível nas academias de amanhã e tudo porque: os feitos superam a dor.

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