|SÃO CENAS MIZIRMÃS|!
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No final do dia juntava-se sempre ao amigo de
infância, dava corpo uma conversa tranquila, revisando cenas que faziam o
sorriso surgir à toa, como habitual, as 20h00 ocorria a mudança de canal para o
telejornal no lugar da novela, nano Gildo não dispensa por nada as notícias
sobre política, nem desporto.
Saiu a manchete e o suspense veio ao ar:
“Esse soba, esse soba, está mesmo velho,
coitado! O perigo já não lhe assusta e pensa pouco para o meu santo gosto”?
Não acreditava no que via e ouvia, o indicador que
ele queria ver estático tremia como catavento apontando para a imagem na TV.
“Este é o próprio cassule ‘pirigoso’, disseram
que desde que os outros saíram, as noites, ele passa pelo buraco da fechadura e
só voltava no dia seguinte se quiser. Ninguém acreditava, os guardas não aceitam
segura-lo por medo”.
“Se te enfia um borno (dizia-se) cais e levantas
apenas na segunda-feira da outra semana sem falta, mas terás de apanhar dois
balões de soro fisiológico aplicados pelo enfermeiro do bairro que estudou em Joanesbourg
e paga-se com dólares”.
“Man Barras não inventa, esse rapaz é apenas o
mais novo, inclusive nem sequer deve ter feito dezoito anos”.
“Estás enganado Gildo, essa calma dele não me
compra. Olha para as vistas do rapaz e vê como refila! Já chamou palhaçada e
tudo, agora esta a dizer que não acredita em ninguém e mandou avisar que não vai
desistir. Pensas que é por acaso que a adjunta do tio batinas escondia as
vistas com cabelo? É só por gosto? Esse miúdo é ‘enjoado’, sabes de quem é xará? Sabes?, Estuda a história pá".
“Calma Man Barras este teu medo é demais, isso
até assusta”.
“Calma você pá, estes putos tiram tática dos
livros, misturam com produtos de quimbundo e uma explosão rebenta tudo. Não
sobra nem areia, nem árvores. Já ouviste falar de Hiroxima e Nagasaki? Queres curvas
nos olhos ou no bigode? Vou para casa refletir o futuro”.
Man Barras antes corajoso, hoje porém trazia katolotolo no medo das pernas. Foi para a cama e nem olho pregou, acordava aos
sobressaltos chamando nomes estranhos, ameaçava defender-se com cacos de
garrafas e lâminas de barbear, ao mínimo ruido escondia-se nos panos da esposa
que dava-lhe um ‘cocos’ na cabeça.
Na manhã seguinte entre pesadelos e sono, ouviu
no programa de rádio Ngola Yetu que o homem que julgou os rapazes vai substituir
o lugar deles no calabouço. Esse feitiço do puto é mesmo grande, OKO! SÒ PODE!
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Katolotolo: Chicungunha.
Cocos: Pancadas com o punho cerrado. Oko:
Expressão de admiração.
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