domingo, 16 de setembro de 2018

COISAS NOSSAS


Eu gostava tanto do João Tchikulia, alias, o Tchikulia era um dos meus melhores amigos na infância, tanto mais que, nos permitíamos entrar em pancadas sempre que as nossas divergências se acentuassem, chamávamos uns nervos terríveis, ora ganhava eu, outras vezes ele, mas a amizade mantinha-se intacta da silva.

Apanhei um choque quando me veio despedir que ia á guerra, nas matas, filiar-se a UNITA, electrifiquei por não achar uma boa atitude para um rapaz de 15 anos de idade.

“Não vá meu amigo, tu deves é estudar e na mata não vais conseguir”
“Quem te disse que não vou conseguir, para alem de ser militar lá tem muitas escolas e vive-se bem”.
“Mais tu podes morrer, sabes que desde a independência a guerra só piorou e aqui na cidade estamos mais protegidos”.
“Nunca mais, as cidades é que serão o maior alvo, serão todas partidas pela guerra”

Lembro-me que brincávamos bastante e ele era exímio em matar pássaros com fisgas, arma feita de borracha de camara de ar para arremessar pedras, eu é que era um fraco, se por acaso matei um pássaro na minha vida é porque o sacana do beija-flores queria mesmo morrer para me ver orgulhoso.

Ficou o ultimo dialogo que tive com João Tchikulia, o único amigo que me despediu para ir a guerra e nunca mais poder vê-lo. Não sei o que aconteceria se calhássemos frente a frente em barricadas opostas.

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