Andava tudo em ordem num dia incomum de 2017, a data de 26 marcava
a saída do Zé e entrava o João num ambiente festivo e de expectativas, pairava
alguma tensão. Gente nervosa numa investidura que parecia mais um jogo de futebol
entre o Petro e 1º De Agosto, com alguns adeptos torcendo para a mudança de chefe,
enquanto outros comovidos choravam desalmadamente a retirada de qual guerreiro invencível
na transferência do trono deixando órfãos de privilégios desolados.
Nesta onda de oportunas oportunidades nem se sabe como Man
Barras apareceu na tribuna VIP o tipo se descompunha em posturas mirabolantemente
provisorias. Tirava selfies repetidas com um indivíduo de tom de pele branca
que diziam ser presidente, abraçando-o, beijando e farfalhando nas bochechas enquanto
chamava-o “ti Celito daqui, ti Celeiro
de-acolá, outras vezes até um ‘ouve
lá Man Marcelinho’.
Batia sem maneiras no ombro do senhor e tudo ia tão bem, até a
ponto do confiaçudo puxar dos lábios do branco alheio uma beata de cigarro, o
que lhe valeu um correctivo diplomático com um golpe de cotovelos ocasionais de
um dos guardas de honra latagão do visitante português.
Triste e com dores nas costelas, o homem chorava por dentro, o
coração aquecia, ranho misturado com lágrimas desfilavam no peito, até que deu
inicio a cerimonia de investidura. Hino entoado e seguido de salva de canhão, ao
que ele, esquecendo-se do acto formal, pôs-se aos gritos. “Dá-lhe, dá-lhe, aplica mais uma rajada, hoje queremos ver pólvora, ele
merece”, e sacava pacotinhos de wiscky The Best, do interior da pasta da
câmara fotográfica Canon que portava pendurada ao ombro.
Minutos depois ouvia atentamente o discurso do Juiz que numa das
abordagens, ele deu um grito penetrante: “Não
aceita Man João ele é que é juiz e te manda você combater a corrupção, já viram
esse esperto!” Faça-o! Faça-o! …Faça-o você que ganha salário para tal. Deste lapiseira
que não escreves seu traiçoeiro e agora vens com fingimentos, kwende oko!
O incansável Man Barras aludido amigo de infância e companheiro
de recruta do presidente eleito, assobiava, em jeito de troça e ia avisando aos
presentes: “Chegou a nossa vez, umas
Sonangois, e uns terrenos no Mussulo, vamos começar a melhorar muito bem a
partir dos Resorts, é por ai, é por ai as correcções das coisas boas”. De propósito
descalçava os sapatos, limpava o suor com cerveja, dava um golo e atirava as
garrafas para o ar, num ar de intocável, de gente grande, desde então não era
mais um qualquer.
Decorridos todos os pressupostos da cerimonia o homem do dia
de toda Angola, o presidente mais votado, tomou a palavra num tom de padre
Alberto da Muxima, era o momento mais alto e esperado:
“Camaradas, (uma pausa)
vamos corrigir o que está mal, (mais
outra pausa para respirar bem), camaradas (pausa para olhar umas damas do protocolo) não vamos nomear a incompetência
dos que ficam a beber The Best misturado com cerveja, (Man Barra apanhou um susto), se alguém pensa que vou andar com
quem me faz envergonhar no seio dos meus convidados esta muito mal-enganado. Eu
vou ser o lideres de todos, crianças e aleijados, bonitos e feios. Olhem! (continuou) Todos
os pobres podem vir até mim e queixar-se, porta aberta, mas os ricos, os
ricalhaços que não se portarem bem, vou dar galhetas eléctricas (´palmassss, fiuuuuu, fiuuuuu’ as palmas e
assobios pareciam mais de inveja dos ricos que de apoio).
Tem mais! Aquele gajo que pensa que basta ser meu amigo para
ter tudo na vida, tira o cavalinho da chuva, eu não vou receber nenhum amigo no
meu gabinete, nem em casa”.
O coitado do Man Barras ao ouvir com desespero esta última
mensagem e ver que não era por ai que viria a ser rico, ‘através’ do amigo de
tropa e infância, aceitou desmaiar!
Embora deitado inconsciente no chão, virou um fenómeno a ser
estudado, porque suava pêlos sovacos e só graças a duas velhas do bairro que
conheciam kifutos de verdade, o homem hoje ainda vive, mas sentado numa cadeira
de rodas de um AVC exterminador.
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