Saudades do meu avo que sempre
que se apercebesse que o que eu estava a contar estava fora da verdade dizia
logo.
“Oh Xara vai lá mas é pastar
ratos”
E via-se sempre um semblante de
gozão naquele homem de meia idade, sempre bem disposto e sempre de casaco ao
corpo para impedir a penetração do frio planáltico na pele. E por se tratar de
avo, víamos nisso sinonimo de velhice e neste caso o meu deveria andar pelos 40
cacimbos, que para esta nossa época nada diz para a ida ao “Aqui Jaz o Sicrano ou
Beltrano num cemitério qualquer”:
De facto este pasto de ruminantes
nunca se concretizou, tirando algumas escapadelas com o pastor Joaquim
Cachicondala que levava-me para segui-lo ao pastar bois e cabritos, ao que eu me
entretia a apanhar gafanhotos e assa-los para petisco e come-los com funge de
ontem assado.
Pensando bem, cada um tem o avo
que tem e de certa forma, essa provável incumbência de pastar ratos, serviu para
regular a minha traquinice, porque, não fosse o caso, nem sei se os próprios
ratos me iriam agradecer, porque nunca fui bom nestas coisas de andar pelo
capim a ver montanhas e pássaros a solta, só para ver os outros a comer. Que ele
me desse outra missão.
De facto, e por força da minha inquebrantável
vontade de criança, eu seguia-o com a minha caneca usada para beber leite ao
curral, durante a ordenha das vacas. Ai junto a sua casinha, uma das quase
únicas do bairro Kamiamba na Kaála cobertas de telha e por este facto acolhia o
padre aos domingos.
Voltados vários anos e já não o
vejo por ter cumprido a sua missão na terra, depois de ter concluído o seu
ciclo de vida e ainda bem, porque ninguém quer dar maçada aos outros pelas
artrites e reumatismos, e amnésias, e tensão altas, e tremuras e nem sei se estaríamos
verdadeiramente dispostos e dedicados a atura-lo nesta procissão de dores e
sintomas, que Deus o tenha.
Só sei que se ele vivesse até
hoje, de tanta mentira ter aumentado entre nós, ele nem espaço ou muitos ratos teria
para mandar pastar, ou teria de escolher animais maiores como rinocerontes ou hipopótamos
e mandar pastar 100 pessoas para cada animal no mar.
Juro mesmo!
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