Era tanto confessório que muitas vezes ficava sem pecados para
apresentar ao padre Martinho.
Levava empurrões da minha velha para confessa-los todas as semanas e
eu sem saber onde arranja-los para carregar o meu planfond de misericórdias.
A trilogia entre o pecador Periquito, a minha mãe e o padre capuchinho
de origem Holandesa acredito ter funcionado como um álibi de compensações de
vontades. Educar na fé por um lado e ver objectivos cumpridos por outro, eu
apenas na obediência de seguir trilhos por desbravar.
Periquito meu nome de infância embora dedicado a honrar o bom nome de meu avô paterno, desajustava-se a minha vontade por força de meio bulling sofrido por
compararem-me a uma ave barulhenta da selva. …Não gostei de ter sido chamado
assim!
Sem escolha alguma aos cinco anos, sem tréguas para o pároco, homem de
meia idade com a boca untada por bigodes e barba castanha, com o sotaque portingles,
na defensiva não conseguiu provar biblicamente como adiar ou tornar ilícito o
acto de consagrar menores, supunha-se, quanto opinião publica de uma pequena
vila, o Tchamutete.
Pela mão extremamente exigente e educativa de minha mãe lá cumpri o
sacramento divino da primeira comunhão e tinha dado assim a iniciação da fé
cristã, hoje com ritmo brando por faltar-me o último pacto religioso antes da irrevogável
encomenda aos pés juntos.
Acto lindo, vestido de branco da cabeça aos pés ou vice-versa, um
lanche onde entre familiares e amigos senti-me pela primeira vez o centro das
atenções, “Parabéns Kito, parabéns rapaz,
juízo hem, agora sim és homem”, porém, sem imaginar o meu martírio posterior
em ter de preparar pecados para os confessórios de todos os domingos antes da
missa.
Hoje por este lado de mais de cinquenta cacimbos, percebo que os
demais pecadores do meu tempo apresentavam tarefas pecaminosas mais sólidas, entre
roubos, assaltos a mão armada, traições, adultérios e tantas impropriedades
morais, enquanto eu na minha fé ia repetindo a minha indisciplina de não ter
aceite lavar a loiça e não ter metido petróleo no candeeiro, farpas muitas
vezes inventadas para não ficar calado frente ao sacerdote.
Que desperdício às oportunidades em falar com Deus através do seu delegado
na terra! Mesmo assim sinto-me com sorte por não ter inventado ter assaltado um
banco, envolvido em uma gang.
Só Jesus!
Quanta doçura nesse texto...
ResponderEliminarO rapaz que inventava pecados
E essa de ir ao confessório, deu à PIDE uma oportunidade para descobrir alguns "pecados" de gente crescida.
Um mártir da fé? Ou uma vítima da inocência?! Kkkkk
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