ícones desta terra”.
A
voz madura de um artista, no show que vou adorar, é sem dúvidas um momento para
dizer, no final, que valeu a pena estar
na magna sala do Royal Plaza, esta que se tornou no Santuário “Real” da
Música angolana, no sentido de “marca”.
Por
que não acreditar que, como eu, Luanda se mobilizará para um show ímpar, imperdível e único, que vai fazer
reviver o meu artista?
Já
é da praxe, fazer do Plaza o nosso espaço, a nossa órbita preferencial, onde
gravitamos nos meses que correm, pelas razões que os ‘showistas’ bem conhecem,
justamente dado o vínculo que articula o público e a equipa que se esmera e se
dedica para que, cada um de nós se sinta na presença de uma relativa forma de
estar: o bem sentir.
Show
do Mês, um show de excelência à parte do show principal, tudo porque a casa nos
reeducou à pontualidade e ao viver de um momento que combina o glamour na
humildade, o sorriso na simplicidade e outra vez a alegria do “bem sentir-se”,
claramente identificável em cada rosto que aborda o Plaza, sabendo sempre que
vai estar bem consigo próprio e com os outros.
Sente-se
circular em cada show uma afeição antecipada, dada a interacção do seu público
nas dicas que se fazem passar, no pré-show e prognósticos de uma conjuntura que
se vai fazer acontecer. Podemos crer!
A
marca Show do Mês, fidelizou um público. E que público! Gente sedenta em
desfazer-se do ócio, das turbulências e exigências do dia, em busca do pão numa
vida partilhada onde os importantes somos nós e os nossos. Homens e mulheres
que na fuga de ver as suas vestes envelhecidas no guarda-roupa, encontra o
álibi para desfilar e bem, na passarela do sorriso.
Depois
de terem passado por este palco, músicos
de uma linha fina do nosso “music-hall” angolano, como Gabriel Tchiema,
Orquestra Kapossoka, Selda, Irina Vasconselos e Mukenga, eis que é chegada a
vez de emprestar a sua voz, nada mais nada menos, que André Rodrigues Mingas
Júnior, o “GASMIN”, num cruzamento com a figura que introduziu “Kalunga”, o Mar
das descobertas, do desterro, do suprir do sal, salgado, e tudo quanto se faz
para saciar a fome dolorosa, e sonhos envolventes, na sua arquitectura de
cantar o amor.
Kalunga
bairro negrinho
nome
que veio do mar,
Foi um escravo bagageiro
que
foi de barco p’ra lá
Trouxe
palavras novas,
kianda
virou iemanja
Calulo virou mukeka,
funge
virou batapa
A
MULHER esculpida para dar vida, a pérola do amor, se fez vestida nas canções de
embalar, na letra e na melodia de um soneto com a mística de uma voz de sempre.
Ele (André Mingas) soube sorrir e chorar no silêncio e, como poucos, fez a
canção mulher, à dimensão versátil, esgrimindo o mais sublime e puro, superando
o dilema transversal deste corpo Luz.
Oh
minha flor, minha luz do sol/
A
fantasia e a cor da minha vida/
Cada
minuto em teu olhar/
Um
palco onde os meus sonhos/
Ganham
vida, esta vida.
Eu
guardo das manhãs/
O
acordar, contigo ao amanhecer/
Beijar
teu corpo nu/
Um
jeito de dizer amor, bom dia...
O
NACIONALISMO se fez confundir entre o cancioneiro e o actor social, procurando
galvanizar a sua gente para as frentes do dia-a-dia, buscando uma esperança, um
sorriso, uma flor, uma palavra amiga e foi assim que fomos aconselhados a agarrar hoje o tempo, falar de
amor, de carinho e de paz, pra no momento certo colher jasmim, fazer poesia com
todas as letras, contar as estrelas, saudar a vida e ver os deuses iguais a
Ele…. E porque não?! E por que não crer nesta comparação da utopia real, a
ombrear com o soberano das alturas.
E
por que não, visto ser digno... o propósito?!
A
canção de Mingas, celebra a vida no pregão da Zungueira do seu tempo, na
Kitandeira do prato de cacusso do Panguila, fazendo querer que o amanhã, será
melhor. Pois o sol brilha na conversa amena da moça que se enamora, nos olhos
de ver e no sorriso matreiro da amiga que insinua; sem trocar por nada esse
sabor do chão e do café, por qualquer viagem a Amstardam e Copenhaga, porque
faz do que é seu, a sua galáxia primeira.
André
Mingas e o seu talento reúnem consenso, fruto de uma educação de esmero, aos
cuidados de uma família que se dedicou, por conta de uma relação de
consanguinidade com os génios de Liceu Vieira Dias, Carlitos Vieira Dias, Rui
Mingas, outros actores próprios desta terra, assim como o meio que o envolveu.
Não
se podia esperar outra coisa do arquitecto, que enquanto artista se preocupou
sempre, na introdução do Belo, da Estética e de celebrar a Arte Prima,
condenado a fazer passar uma música que estimula um sentimento que viaja suave,
no ouvido menos atento e o valor no sentido próprio, de uma postura que eleva o
homem, as tribunas de seres únicos por força de uma eximidade sonora que nos
envolve.
E
hoje, porém, nos rendemos ao talento de uma obra cosmopolita cujo legado deve
marcar presença insubstituível nas academias de amanhã e tudo porque: os feitos
superam a dor.
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