domingo, 25 de dezembro de 2016

OS PECADOS DO MENINO PERIQUITO.

Era tanto confessório que muitas vezes ficava sem pecados para apresentar ao padre Martinho.
Levava empurrões da minha velha para confessa-los todas as semanas e eu sem saber onde arranja-los para carregar o meu planfond de misericórdias.
A trilogia entre o pecador Periquito, a minha mãe e o padre capuchinho de origem Holandesa acredito ter funcionado como um álibi de compensações de vontades. Educar na fé por um lado e ver objectivos cumpridos por outro, eu apenas na obediência de seguir trilhos por desbravar.
Periquito meu nome de infância embora dedicado a honrar o bom nome de meu avô paterno, desajustava-se a minha vontade por força de meio bulling sofrido por compararem-me a uma ave barulhenta da selva. …Não gostei de ter sido chamado assim!
Sem escolha alguma aos cinco anos, sem tréguas para o pároco, homem de meia idade com a boca untada por bigodes e barba castanha, com o sotaque portingles, na defensiva não conseguiu provar biblicamente como adiar ou tornar ilícito o acto de consagrar menores, supunha-se, quanto opinião publica de uma pequena vila, o Tchamutete.
Pela mão extremamente exigente e educativa de minha mãe lá cumpri o sacramento divino da primeira comunhão e tinha dado assim a iniciação da fé cristã, hoje com ritmo brando por faltar-me o último pacto religioso antes da irrevogável encomenda aos pés juntos.
Acto lindo, vestido de branco da cabeça aos pés ou vice-versa, um lanche onde entre familiares e amigos senti-me pela primeira vez o centro das atenções, “Parabéns Kito, parabéns rapaz, juízo hem, agora sim és homem”, porém, sem imaginar o meu martírio posterior em ter de preparar pecados para os confessórios de todos os domingos antes da missa.
Hoje por este lado de mais de cinquenta cacimbos, percebo que os demais pecadores do meu tempo apresentavam tarefas pecaminosas mais sólidas, entre roubos, assaltos a mão armada, traições, adultérios e tantas impropriedades morais, enquanto eu na minha fé ia repetindo a minha indisciplina de não ter aceite lavar a loiça e não ter metido petróleo no candeeiro, farpas muitas vezes inventadas para não ficar calado frente ao sacerdote.
Que desperdício às oportunidades em falar com Deus através do seu delegado na terra! Mesmo assim sinto-me com sorte por não ter inventado ter assaltado um banco, envolvido em uma gang. 
Só Jesus!

sábado, 17 de dezembro de 2016

São Cenas Mizirmãs! - KIZANGOS DO 'JORNALISTA' MORENO

“Mas então Moreno! Sais as dezoito e voltas a madrugadas, que tipo de jornalismo é esse”?
“Outra vez a mesma pergunta?! Já lhe disse tantas vezes que eu faço jornalismo de entretenimento, recolha de noticias frescas em todos os shows e festas de gente grande, quantas vezes preciso falar-te isso Marcela? És chata”!
“Eu é que passo por ser chata homem! Nunca tens dinheiro, nem vemos programa teu na Tepea, nem em rádio alguma como faz aquele mano do TeleNoticias e Horas Frias ou no Kiassabalo, onde é que metes essa tanta matéria que te dignas recolher até em after party de festas de pedidos”.
“Marcela alguma vez disse-te que sou apresentador ou locutor? Eu trabalho nos bastidores, sou o cérebro, faço entrevistas e conduzo a produção de programas mais complexos, achas ser fácil”?!
Num sábado pela manhã:
“Dá licença. É aqui a casa do Doutor Moreno? – Sim, mas ele não é doutor, é jornalista”.
“É mesmo esse, disse que ganha salário em dois lados, podemos falar com ele? – Não, ele esta fora de casa, ainda não voltou do serviço”.
– “Ai é! Estão a lhe esconder? Então o gajo do homem meteu barriga de sete meses na miúda pequena que estava na nona classe e nem vem falar com a família até hoje? ...Mana gorda ela vai ficar aqui contigo e ai de ti se ela se queixar de algo mau”!
“Ticha tu ficas, toma, pega a tua trouxa, a partir de hoje vão viver as duas mulheres do bandido na mesma casa, ou ele pensa que engravidou cabrito”.
"Esta bem mamã vou 'fica'. Tia não comi desde manhã, os três nenés estão a chatear na barriga, vou entrar na cozinha e fazer um pouco de arroz doce, tem leite"? 
***
Irritada com o atrevimento da miúda:
"Aló, aló Moreno seu sacana duma figa vem já agora, vem ver o teu entretenimento dos bastidores produzido em programas complexos. Nesta casa da minha herança não vão ficar! Bem que sempre desconfiei. Antes que eu incendeie a tua mala, tira-a rápido, porque tu e essa tua treca nesta casa; ra, ré, ri, ro, ruaaaaaaaa.

Mas é o ‘zomem’!


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Kizangos - Azar
Kiassabalo - Sabado
Zomem - Homens (plural)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

ESPERANÇA MIRANDA BRILHANDO NO ARTZ.

Os frutos do The Voice Angola engalanaram o espaço místico do Casino Marinha. 
Claramente que ela e os seus já cantavam bem antes deste game, sendo o oposto, jamais teriam pisado aquela rígida tribuna do The Voice, que os apresentou a janela mais ampla das artes, elevando-os ao estrelato. Tomará, não fosse o caso, até eu lá estaria, com a minha voz desafinada a afugentar sardões. 
Espaço seleto a fazer juz ao esforço que o meu amigo Herlander Glenóide mesmo ‘estando na hora de treinar’, dá o toque a notável gestão cultural da casa e não se cansa em apadrinhar novos ‘bons’ talentos. Desta vez a quebrar mais um galho e responder a dúvida que pairava sobre o destino dos rebentos que o nosso royalty show pariu.
Recolhidos à porta por alegres garçons, fomos acenando aos presentes, ver chegada a hora do motivo e sob a sombra ouvir a voz que se afirma segura no mercado, era a Esperança Miranda de tom suave e na métrica, revivendo o meu The Voice de algum dia. Ela brindou-nos com viagens pelas mais conceituadas baladas e soul music, para quase surpresa, carburou-nos com o talento de dois colegas seus, num tom que só quem sabe pode fazer; El Vince e Selso Cézar, dois Thevoicianos de primeiro plano cantaram e encantaram os presentes.
A noite de sábado prometeu, nos alegramos e fizemos o nosso jango. A mesa trazia sorrisos de James e Mark, Rosaria de Castro, João da Cunha e a minha mais selecta e legitima figura de alta segurança, lá saímos aos beijos e abraços pelo aumento do amor 'lá em casa'.   
Valeu!
















terça-feira, 6 de dezembro de 2016

SÃO CENAS MIZIRMÃS! - TICHA

“Bom dia mana Joana é que mas que te faz correr essa hora bem cedo”?
“Me segue Lemba, me segue, querem agredir a Ticha numa vais velha, falaram que usou mais a técnica dela de roubar marido alheio”
***
“Ticha ouve, o que se passa mais desta vez miúda, alugar quarto de sozinha afinal é para isso”?
“Me larguem, não me puxem nos ‘pisticios’ eu não mandei os talos zomens ficarem boelos quando se batemos encontro, se quiserem podem lhe levar, ele sozinho vai voltar”


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Pisticios  - Cabelos postiços
Zomens -  Homens
Boelo - Pateta. burro

ANDRÉ MINGAS CANTOR QUE EU ESPEREI

“Reviver André Mingas é voar na melodia mística de um cantor elevado à casta dos
ícones desta terra”.
                A voz madura de um artista, no show que vou adorar, é sem dúvidas um momento para dizer, no final, que valeu a pena estar  na magna sala do Royal Plaza, esta que se tornou no Santuário “Real” da Música angolana, no sentido de “marca”.
                Por que não acreditar que, como eu, Luanda se mobilizará para um show  ímpar, imperdível e único, que vai fazer reviver o meu artista?
                Já é da praxe, fazer do Plaza o nosso espaço, a nossa órbita preferencial, onde gravitamos nos meses que correm, pelas razões que os ‘showistas’ bem conhecem, justamente dado o vínculo que articula o público e a equipa que se esmera e se dedica para que, cada um de nós se sinta na presença de uma relativa forma de estar: o bem sentir.
                Show do Mês, um show de excelência à parte do show principal, tudo porque a casa nos reeducou à pontualidade e ao viver de um momento que combina o glamour na humildade, o sorriso na simplicidade e outra vez a alegria do “bem sentir-se”, claramente identificável em cada rosto que aborda o Plaza, sabendo sempre que vai estar bem consigo próprio e com os outros.
                Sente-se circular em cada show uma afeição antecipada, dada a interacção do seu público nas dicas que se fazem passar, no pré-show e prognósticos de uma conjuntura que se vai fazer acontecer. Podemos crer!
                A marca Show do Mês, fidelizou um público. E que público! Gente sedenta em desfazer-se do ócio, das turbulências e exigências do dia, em busca do pão numa vida partilhada onde os importantes somos nós e os nossos. Homens e mulheres que na fuga de ver as suas vestes envelhecidas no guarda-roupa, encontra o álibi para desfilar e bem, na passarela do sorriso.

                Depois de terem passado por este palco,  músicos de uma linha fina do nosso “music-hall” angolano, como Gabriel Tchiema, Orquestra Kapossoka, Selda, Irina Vasconselos e Mukenga, eis que é chegada a vez de emprestar a sua voz, nada mais nada menos, que André Rodrigues Mingas Júnior, o “GASMIN”, num cruzamento com a figura que introduziu “Kalunga”, o Mar das descobertas, do desterro, do suprir do sal, salgado, e tudo quanto se faz para saciar a fome dolorosa, e sonhos envolventes, na sua arquitectura de cantar o amor.
               
                Kalunga bairro negrinho
                nome que veio do mar,
Foi um escravo bagageiro
                que foi de barco p’ra lá

                Trouxe palavras novas,
                kianda virou iemanja
Calulo virou mukeka,
                funge virou batapa
               
                A MULHER esculpida para dar vida, a pérola do amor, se fez vestida nas canções de embalar, na letra e na melodia de um soneto com a mística de uma voz de sempre. Ele (André Mingas) soube sorrir e chorar no silêncio e, como poucos, fez a canção mulher, à dimensão versátil, esgrimindo o mais sublime e puro, superando o dilema transversal deste corpo Luz.
                   
                Oh minha flor, minha luz do sol/
                A fantasia e a cor da minha vida/
               
                Cada minuto em teu olhar/
                Um palco onde os meus sonhos/
                Ganham vida, esta vida.
               
                Eu guardo das manhãs/
                O acordar, contigo ao amanhecer/
                Beijar teu corpo nu/
                Um jeito de dizer amor, bom dia...
               
                O NACIONALISMO se fez confundir entre o cancioneiro e o actor social, procurando galvanizar a sua gente para as frentes do dia-a-dia, buscando uma esperança, um sorriso, uma flor, uma palavra amiga e foi assim que fomos  aconselhados a agarrar hoje o tempo, falar de amor, de carinho e de paz, pra no momento certo colher jasmim, fazer poesia com todas as letras, contar as estrelas, saudar a vida e ver os deuses iguais a Ele…. E porque não?! E por que não crer nesta comparação da utopia real, a ombrear com o soberano das alturas.
                E por que não, visto ser digno... o propósito?!
                A canção de Mingas, celebra a vida no pregão da Zungueira do seu tempo, na Kitandeira do prato de cacusso do Panguila, fazendo querer que o amanhã, será melhor. Pois o sol brilha na conversa amena da moça que se enamora, nos olhos de ver e no sorriso matreiro da amiga que insinua; sem trocar por nada esse sabor do chão e do café, por qualquer viagem a Amstardam e Copenhaga, porque faz do que é seu, a sua galáxia primeira.
                André Mingas e o seu talento reúnem consenso, fruto de uma educação de esmero, aos cuidados de uma família que se dedicou, por conta de uma relação de consanguinidade com os génios de Liceu Vieira Dias, Carlitos Vieira Dias, Rui Mingas, outros actores próprios desta terra, assim como o meio que o envolveu.
                Não se podia esperar outra coisa do arquitecto, que enquanto artista se preocupou sempre, na introdução do Belo, da Estética e de celebrar a Arte Prima, condenado a fazer passar uma música que estimula um sentimento que viaja suave, no ouvido menos atento e o valor no sentido próprio, de uma postura que eleva o homem, as tribunas de seres únicos por força de uma eximidade sonora que nos envolve.

                E hoje, porém, nos rendemos ao talento de uma obra cosmopolita cujo legado deve marcar presença insubstituível nas academias de amanhã e tudo porque: os feitos superam a dor.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

HÉLIO CRUZ, DA BATERIA E O ANIVERSÁRIO

Entre os bateristas que eu conheço, este é simplesmente o meu.
Exímio na percussão, hipnotiza com as baguetas ao sabor melódico da balada e na cadência do choque da batida enamora o espírito que se joga eriçado ao verso.
É bastante bom vê-lo fulminar no fundo do palco, onde se encaixa e confunde-se com o jaguar ébrio em savana densa.
Homem feito para a música, e executa com mestria os mais complexos temas do seu tempo.
Parabéns Hélio Cruz, parabéns mestre da Bateria, sempre que o sopro da vida me autorizar, continuarei a apreciar o teu trabalho.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

MENSAGENS AMBULANTES

“Não tome pela força o dinheiro de ninguém, fique contente com o seu salário”
Mais uma daquelas aulas ambulantes 'do traseiro' do candongueiro.
Estou contigo meu operativo desde que não me venhas dar mbaias, ou me ponhas na bauka. Hoko!

Nota: Nos candongueiro (taxi colectivos),angolanos lemos mensagens bastantes sugestivas cujos conteúdos em forma de sátira nos conduzem para reflexões surpreendentes, nos remetendo a gargalhadas enquanto conduzimos ou nos remetemos a introspeções inusitadas, vendo-os em mbaias (zig zag) e o sorriso dos passageiros na bauka (assento adaptado por detrás do motorista). 

PIONEIRO ANGOLANO

No fervor de uma época em que o 'Pé batia esquerdo'. 
Arrastou comandó era o argumento mágico da travagem p'ra Ngangula!



Nota: Uma fase pois independência que marcou a vida da minha geração infantil, estava substituída a mocidade portuguesa e outros movimentos juvenis por razões de viragem histórica. Era uma escola de valores e princípios incentivando sobretudo o patriotismo, com sloganes direccionados aos estudos e humildade. Enfim ...a nossa OPA (Organização do Pioneiro Angolano). 
'Um ponto de ordem Camaradas'.