domingo, 7 de maio de 2017

São Cenas Mizirmãs: TICHA DAS DEZASSEIS

Dezanove horas e quarenta e três minutos, o Marçal agita-se para viver a noite, de longe um toque de Kuduru, deve ser Puto Lilas ou Prata, pouco entendo desses nossos putos. Damas na flor da idade, sonhadoras em cheiros de banho e perfumes, cabelos lisos e cacheados limpos ou nem tanto assim, grupos com trajes de kilapis por pagar, destapam na gola o selo da China e Dubai ou Tailândia. 
Sorrisos provocando transeuntes e assim o final do dia corre para a noite que trás ao fundo lâmpadas em postes de betão, uma dúzia negando acender por falta de verbas, segundo a administração comunal. 
 “Boa noite vizinha Clara só agora do mercado”?
“Só sim Ticha e tu passaste bem o dia”? 
“Passar o dia até que passei, agora a noite é que não sei como será, olha esteve cá o Chico da construtora Teixeira DaSartes, pagaram uma grade e deixaram cinco para ti”.
“Cuidado com esses amigos do Chico Ticha tu és casada”.
“Clara não aguento mais essa vida, casada como? O Mingo desde que foi nomeado motorista do ministro chega sempre tarde, dois anos nessa vida é demais”. 
“O que é que tem, se ele vem todos os dias a casa! Tu pens…” 
 “Chega Joana, se for conselho dá nas paredes, vou arranjar um da função pública, homem que larga as dezasseis horas e vem direitinho para casa, estou decidida, quero vidas largas”.



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