sábado, 20 de maio de 2017

JÉSSICA A DAMA DA VILA ALICE

“Ela é minha”
“É minha, eu é que escolhi primeiro”
“É minha, tu já escolheste aquele carro queres mais a Mboa?... É minha pá”. Discussão acesa entre os meninos de rua que tinham montado sua base no local.
Surgia como sempre em passo firme, vinte e dois anos vividos ao mais alto gosto, garota para encaixar em qualquer desfile de passarela. Cabelos soltos, negros e o tom branco na madeixa. O passo tinha a medida do pé, assumindo o calçado trinta e nove que equilibrava a ginga suave.
“Ela é minha eu hoje escolhi primeiro, tu já lhe escolheste ontem”
Os meninos de rua conheciam a sua rotina e entravam em delírio ao vê-la passar diante o Cine Atlântico. 
Click no remoto da chave, entrava para o BMW Série 7 num sai e chega como sempre.
Era tema de conversa durante as noites sem sono entre o passeio e o muro da escola primária, discussão em brasa depois de inalados 250 ml de gasolina em lata de Fanta que girava pela mão dos cinco garotos.
O amor se tornava ocultamente real e sofreu disso, um amigo que a visitará numa tarde destas, que ao sair a correr debaixo de uma chuva meiga vê os quatro pneus do carro vazios, era a vingança de cão por ciúme dos putos, que de longe espreitavam e “bem feito”, riam-se da punição, até ver chegar o pronto socorro para evacuar a máquina do intruso.
Entre a briga e discussão impulsionado pêlos demais Filipe o mais novo, ganha coragem e poem-se diante dela.
“Minha kota posso falar contigo?. – Podes sim.
“Quer dizer (coçava o cabelo) sim kota é para dizer, eu te kurto bwé”
“Oh obrigada, eu também te kurto, como te chamas?
A inesperada resposta caiu como estrondo de salva de canhão no cérebro de Filipe, o puto foi desequilibrando para trás e em três segundos com profundo apagão, pousa inerte os seus quarenta e três quilos no chão.

…(Continua)

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