Ido do Tchamutete à
Caála, para onde fomos residir, fugidos dos confrontos armados em 1974, acto
que poderia levar a provável morte do meu velho por ter sido um militante teimoso
do MPLA e eu um entusiasta militante da OPA,
Na nossa casa vivíamos
de simpatias divididas, o velho e três rapazes do MPLA e a velha da UNITA, na
paz como uma espécie de Primeiro de Agosto e Petro que sempre perde.
O que me chama a
este episodio é o novo amigo conseguido por força desta mudança de residência,
o Bernardo.
Rapaz com os seus treze
anos, alguns meses menos que eu, filho de gente sem posses, enquanto eu
estudava a sétima classe ele andava na terceira e quase sem roupa alguma.
O Bernardo tinha apenas
dois calções, um para ir à escola e outro que não merecia este nome, de tão
roto e já não aceitar remendos.
Tinha a parte
escura das nádegas e todas fora dos trapos a confundirem-se com duas abóboras encaixadas.
De tanta pena e
porque tínhamos de andar em passeios juntos, retirava da minha roupa, alguns calções
para oferecer ao Bernardo e estarmos em pé de igualdade.
Já naquela idade,
eu não me sentia justo, andar em pé de superioridade diante o meu amigo, até
que um dia a minha velha, que até era boa, descobriu a minha filantropia com dinheiro
deles, neste dia vi o sol vermelho e o diabo a assar sardinha.
E pensam que até
hoje deixei?!
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