Cacimbo frio e seco, Cassinga fumegava pelas manhãs
neste clima a sul da Huila.
Era com mano Moisés que a pesca acontecia no rio
Calonga a revelia dos nossos pais, o entra e sai da isca para a água, muitas
vezes nem sequer um sardão caia.
De repente, num lance o anzol assanhado faz o QRF e
aterra entre as minhas narinas, sangue a jorrar, virei mártir de Cangamba e de
Kifangondo ao mesmo tempo, a dor aumentava na tentativa de puxar, era tudo a
toa, não havia bombeiros naquela época.
Cada puxão atrapalhado em socorro, em vez de
ajudar, o cabrão endiabrado do fio de aço afundava mais na minha carne.
Aquela pontinha curva do Anzol complicava mais a
retirada, deve ser por isso que de susto os meus olhos que por si já nunca
foram pequenos ganharam mais alguns diâmetros pelo medo.
Aiwé mano Moisés, tu assim me confundiste com
bagre, corvina ou choupa?!
Chorei em todas as línguas nacionais e experimentei
até o mandarim, se demorassem mais uns minutos a ser resgatado hoje me tornaria
poliglota.
Não fosse um bondoso e ágil transeunte, o meu fim teria sido mufete na
grelha de um ganguela qualquer, …caraças.
Chagados a casa, assunto encerrado, falar aos pais era
pedir uma surra que nem o nosso provedor da justiça que fala muito
português iria conseguir acudir com habeas corpus.
Sofri calado, sorte minha que naquele tempo as feridas
curavam até com areia.
Ficar já calmo, nunca mais! Passados três dias estava eu
outra vez com meu anzol em mão, desta vez sem o mano Moisés, quem sabe o meu calvário estava predestinado nas mãos dele!
Luanda - 15.04.17
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