sexta-feira, 3 de março de 2017

AUTOBIOGRAFANDO-ME

Consta dos autos de uma conservatória dos registos civil que eu nasci na Caála, aqui um a parte para as varias apreciações que assumem o ‘fui nascido’. Sim, nessa Caála do Recreativo do futebol, do Kalupeteka profetizante e do Mi sob Mosquito que no final de tudo, quem sabe, virilmente aconselhado, desencheu-se na fala das batotas sobre coisas de chutar a bola com trafulhices de bastidores. 
Ter aí subterrada a minha placenta também me foi apenas feito constar e não constitui objecto de duvidas, alias, não iriam meus pais mentir-me, por simples razão de não alterar o gráfico dos seus rendimentos financeiros. “Mentir não dá dinheiro”, naquele nível.
Vivendo afogados e desafogados conforme os ordenados mensais e os seus devidos subsídios os relatos ainda disseram que entre o colo e o dorso da minha progenitora, amarrado em pano, fomos nós enquanto pessoas, conduzidos para este Tchamutete da vida, na Huila que me quis fazer adolescente da conjuntura, por razões profissionais do sr. Cassinda (meu pai).
O absolutismo familiar não me delegava poderes alguns de admitir se adorei ou não esta mudança, pois, aos pais da era não se obrigavam a estas de-mo(s)ca-cias participativas de gestão de bens próprios entre os quais o lar. 
Fulgurava em Cassinga uma promessa gigantesca de elevar a riqueza da Angola de então e de lá os poucos habitantes beneficiando dos prazeres que a industria extrativa em evolução proporcionava na pequenice do meio, um monstro no desenxergar da minha miniatura figura que se assustava à tudo.
Entre os minerais ferrosos e o ouro que se apresentava no subsolo, os meus apetites circundava-se aos mergulhos inocentes e pesca pelos rios Calonga e Kului, o ver jogar a bola entre a Jamba, Mupa e Tchamutete e a malandrice em por espelho no chão para ver se enxergava as intimidades em saias das meninas, o que me valeu uma tripla surra da professora Luduvina versus minha mãe e um par de tabefes de meu pai, sem que algum proveito tivesse conseguido dessa singela aventura. 
Solta-se o conflito armado e o regresso à base se tornaria inegociável, sem apelo nem agravo, pois fechava-se a industria mineira de Cassinga com suas imponentes máquinas pedindo ao menos para serem sucata e assim os relatórios promissores de crescimento mineiro desfizeram-se em projecções financeiras desastrosas.
Euzinho aqui sem pelo menos uma barra de ouro nos cofres de Londres como saldo desta epopeia. Fidacaixa!

Sem comentários:

Enviar um comentário