domingo, 22 de janeiro de 2017

FERRO ENDIREITA-SE COM FOGO CHICO ZÉ

O Domingo começava com um nevoeiro madrugador próprio da época por aquelas terras do Leste, o horizonte se fazia branco e as formigas matinais retinham-se no seu refúgio.

Ao vê-lo chegar, a velha Katalaia não acreditava que toda aquela coragem vinha da cabecinha de Chico Zé cara de anjinho, vitrina humana desenhando um corpo franzino com cerca de um metro e quarenta e oito de altura.  

Rapaz recém-chegado, a recruta nem ia ao meio, como foi possível pular a cerca e encher a barriga da Malila?!

A sua figura insurrecta, mãos no bolso diante de respeitáveis adultos, rejeitava-se na aceitação da mente da coitada senhora quando olhasse para o jovem com olhos de espantalho.
Reunido de emergência o colóquio familiar, da sua parte o chefe de pelotão fazia o papel de tio, primo inventado do pai dada a ocasião inesperada dos apetites da nudez.

Antes da conversa cuidou-se instruir ao Chico Zé a não desonrar por nada deste mundo a proposta incondicional ao casamento, não queira ele arregimentar problemas maiores, pois em menina do Cazombo não se engana, nem se sai impune das acrobáticas desonras à miúda em plena puberdade.

As duas grades de cerveja para a apresentação, uma contribuição dos colegas de caserna se faziam dobrar em lona militar sem o simbólico cabrito para os avôs maternos, Chico Zé não tinha dinheiro, tropa não ganha salário e evita-se voltar a falar nisso.
Conversa a meio, aumentava a dúvida sobre a sobrevivência futura do casal sem recursos, rapaz ingénuo e a visível inexperiência ao trabalho agrícola dela numa desconseguida terceira classe. Ânimos ainda a flor da pele, verificava-se claramente que o custo desta gravidez sobraria para os progenitores.

Ainda perplexos estrangula-se na resposta a questão de ter sido ele ou não a desvirginda-la cuja arrogância de luandense veio ao de cima: “Ela é que me encontrou no arame da unidade, não fui eu que a chamei, ela é ban…”.
O pobre do rapaz militar, mesmo avisado que ali não era no Cazenga e que fitas de novela não faziam plateia naquele mundo, o coitado chamou a si um tratamento a medida do acto rebelde, caindo-lhe como raio um dos tios de Malila.
Na ressonância de raio laser avançou com uma cabeçada na testa despreparada do rapaz-soldado, golpe certo no crânio, só não avançaram algumas bassulas porque em tropa não se bate enquanto fardado, mas a mensagem fez-se passar. “Parto-te os cornos, hum, seu cabrão”.

Verificando que o problema era, afinal, mais sério do que parecia a partida, a única aliança foi sentar-se no pano azul com pintas brancas estendido no chão do quintal, junto as pernas da anciã Katalaia que entregou-se qual protecção de circunstância ao futuro genro-neto. “ Meu neto ‘nó’ fica mas refilão, aqui batem”.

Dai em diante todas as questões a propósito, viam-se respondidas com “Sim paizinhos ou mãezinhas” anti-subversivo e vinte e quatro horas depois, via-se compulsivamente residir nos anexos da casa da mãe sogra ensaiando a vida a dois. 

Luanda 22/01/17
LT

Sem comentários:

Enviar um comentário