Afrikkanitha é uma voz que nos
desperta de forma clara, para um conceito que se afirma como rumo de uma música
estruturada, é uma voz do jazz que se distingue pelo esforço em manter os
dogmas da classe e critérios de uma cantora perfeita.
Ela agrupa em sí, um domínio da
génese criativa e faz-se suportada por padrões estéticos que balizam o seu
canto.
Qualquer bom ouvido pára, para
ater-se aos argumentos que se entrelaçam na sua música, com sonoridades desde
os instrumentos de precursão, sopros e cordas e por final a voz. “Quem a ouve
Afrikkanita, sente-se bem”.
É esta voz que ela ergue para
cantar a paz o amor e a vida, com a música Tabanimató num grito de insurreição,
faz-se em defesa das crianças, num alerta ímpar, enquanto também progenitora,
sofre pêlos desfavorecidos no continente, sofre enquanto mãe.
Na música, a cantora, eleva-se ao
trazer o inglês para a compreensão das imagens que é a nossa Africa, traz
reflecções sobre carências, incompreensões, convulsões sociais e o desespero em
Haya Kele. O pregão desta cantora, junta-se as vozes do Africa de Ismael Lô, ou
Africa Yami da Gabriel Tchiema com a rica participação de Gerald Totó.
Entre os seus variadíssimos temas
fundidos na sua obra discográfica, uma particular alusão ao Nga Madia, numa
fusão do Massemba com o jazz articulado numa percussão ímpar, eleva o Kimbundo
no texto, para o degustar de audiências onde o tema cai como Cocktail num
lanche tropical de bombo com ginguba e maruvo do Bengo.
A relevância pelo Jazz fez-lhe
intransigente, a menina da Rua 16 do Bairro Mártires de Kifangondo, simplifica
criteriosamente o canto e neste planar pode ombrear perfeitamente com Dianne
Reeves na magnitude da raça negra.
Afrikkanita nasceu nas terras
férteis do café negro, e bebeu influencias culturais, do cisosi* e Lundongo
numa passagem pelo bairro Académico no Huambo onde os senhores António José “Brazil”
natural da Kibala e Carolina Sandaleno de Porto Amboim, ambos da província
Angolana do Kuanza Sul, fizeram-na passar por razões profissionais.
Regista-se por parte desta, um
grande apego a sua família, beija, ouve, ampara e presta-se a dedicar a máxima
atenção aos que a ela ocorrem para um abraço fraterno de mana-irmã e recebe de
forma recíproca o respeito e a amizade que lhe é merecido, por doar-se aos seus.
Não tem como, …este percurso
humano e as mil viagens que carrega aos ombros, só podiam dar certo, pois,
permitem-lhe ler o universo por cima e plantar poesia com mestria em cada
canção que apresenta ao seu público.
Afrikkanita enquanto rainha do
Soul Music desta terra, é a perfeição de uma musa que impulsiona a música de
Angola para um auditório de singular complexidade e com estrada para trilhar,
só imploramos que continue a brilhar, …enfim.
*Lê-se Tchissoci
Texto publicado na edição de 17
de Março no Jornal de Angola.