Como no sonho ligeiro, oiço o refrão da flauta, esta tua outra voz,
que te deu vida e mergulhou neste globo que nos representa como figuras de
massa física.
[Sou eu quem renunciou a vida] no verso entoado por Neto que abriga-se
no canto desta renúncia impossível e eu aqui neste passivo me resignando de ti
num as de copas.
Vi-te Kafala com José seu irmão nos combates da vida, erguido nas
tribunas que elevaram esta pátria, no módulo mais assertivo do cantar Angola
que tu amaste desde os Dembos, lugar híbrido do teu cordão umbilical e a
réplica dos feitos herdados de Ngola Kiluangi nesta Bula Tumba que te fez nosso.
[Vakwe, ie iei eia vosi vafa ah, ah, ah] = (Tradução: oh, todos morreram) canção de consolo na trova
das cordas da guitarra, e o som que se esvai na tumba, onde jamais te queríamos
ver.
Doí o momento, revolta o minuto de te ver descansar sem cantar o canto
que mais querias, massacra a dor se perceber que se cala a voz do meu trovador.
Como não parar e te ver cantar a nova trova de intervenção com Sílvio
Rodriguez e na poesia de Pablo Milanes, entoar Pata Pata com Miriam Makeba numa
arena qualquer de Berlim, este jazz e o blue de uma época dos cancioneiros do
teu, meu tempo.
Revolta-me ter-te aqui ausente, sem o respaldo místico das notas quarternárias
em Dó Maior.
E agora, vivei, cantai, chorai e agora, quem vai tocar a tua flauta,
Moisés Kafala!
Moisês Kafala
Pablo Milanes |
Miriam Makeba |
Sílvio Rodriguez |
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