sexta-feira, 2 de setembro de 2016

MOISES KAFALA A DIMENSÃO DE UM HOMEM QUE SE REFEZ NA FLAUTA!

Parece-me que certas coisas nos caem das mãos ao mínimo gesto, sem o aviso das mais vulgares cogitações e sai-nos do máximo, tudo o que nos representa na amálgama de um sopro que se esvazia no olhar impotente.
Como no sonho ligeiro, oiço o refrão da flauta, esta tua outra voz, que te deu vida e mergulhou neste globo que nos representa como figuras de massa física.
[Sou eu quem renunciou a vida] no verso entoado por Neto que abriga-se no canto desta renúncia impossível e eu aqui neste passivo me resignando de ti num as de copas.
Vi-te Kafala com José seu irmão nos combates da vida, erguido nas tribunas que elevaram esta pátria, no módulo mais assertivo do cantar Angola que tu amaste desde os Dembos, lugar híbrido do teu cordão umbilical e a réplica dos feitos herdados de Ngola Kiluangi nesta Bula Tumba que te fez nosso.
[Vakwe, ie iei eia vosi vafa ah, ah, ah] = (Tradução: oh, todos morreram) canção de consolo na trova das cordas da guitarra, e o som que se esvai na tumba, onde jamais te queríamos ver.
Doí o momento, revolta o minuto de te ver descansar sem cantar o canto que mais querias, massacra a dor se perceber que se cala a voz do meu trovador.
Como não parar e te ver cantar a nova trova de intervenção com Sílvio Rodriguez e na poesia de Pablo Milanes, entoar Pata Pata com Miriam Makeba numa arena qualquer de Berlim, este jazz e o blue de uma época dos cancioneiros do teu, meu tempo.
Revolta-me ter-te aqui ausente, sem o respaldo místico das notas quarternárias em Dó Maior.

E agora, vivei, cantai, chorai e agora, quem vai tocar a tua flauta, Moisés Kafala!

Moisês Kafala
Pablo Milanes
Miriam Makeba
Sílvio Rodriguez






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